Como dar um feedback na prática

Isa SerpaIsa Serpa
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Neste artigo falo sobre a Escada da Inferência, modelos para estruturar um feedback e boas práticas ao dar um feedback.

Foto de Christina @ wocintechchat.com em Unsplash

Antes de falar de feedback, é importante citar a Escada da Inferência. O conceito foi apresentado pela primeira vez pelo psicólogo organizacional Chris Argyris. Abaixo um exemplo de como funciona um processo de tomada de decisão em uma situação do cotidiano.

História em quadrinhos que representa a Escada da Inferência em uma situação do dia a dia com dois colegas de trabalho.

Fonte: Anna Warfield em Storyboardthat

George está focado em seu telefone durante a apresentação de Judy. Como ele não está olhando para Judy enquanto ela apresenta o assunto, parece que não está interessado na apresentação. No entanto, o único fato que pode ser percebido é que George está olhando para o telefone, sendo que o mesmo pode estar: esperando uma ligação importante, marcando um horário para se encontrar com Judy para falar mais sobre o tema da apresentação, tentando desligar o telefone e etc.

As etapas da história em quadrinhos representam os degraus da Escada da Inferência.

Imagem da escada da inferência com os degraus:Dados observáveis,Seleção de fatos,Interpretações, Suposições e Conclusões.

Escada de Inferência adaptada pela autora

  • Dados observáveis: Tudo que pode ser observável.
  • Seleção de fatos: Como não se pode prestar atenção em todos os fatos, seleciona-se alguns e outros são deixados pelo caminho.
  • Interpretações: Os fatos são interpretados e recebem um significado pessoal.
  • Suposições: Nesse nível, suposições são feitas baseadas no significado que é dado aos fatos.
  • Conclusões: A partir daí, transformamos nossas próprias suposições em conclusões firmes.
  • Crenças: Nessa etapa com base nas conclusões que tiramos, adotamos crenças sobre a situação. Em seguida, usamos essas crenças e experiências para moldar julgamentos futuros sobre cenários semelhantes.
  • Ações: Ações são tomadas baseadas nas crenças e conclusões. A tomada de decisão parece ser a melhor no momento.

Usando a Escada de Inferência, é possível aprender a voltar aos fatos e utilizar as crenças e experiências para uma tomada de decisão mais assertiva. Gosto muito de um vídeo do Trevor Mabe — Rethinking Thinking para o TED Ed, que exemplifica muito bem como funciona a Escada da Inferência em uma situação do cotidiano. Se tiver interesse de assistir clique aqui.

E o que a escada da inferência tem a ver com o ato de dar feedback? Tudo.

O processo de tomada de decisão até uma ação que acontece na escada de inferência é baseado em suposições fundamentadas nas vivências e experiências que cada pessoa tem. E, o ato de dar feedback consiste justamente em evitar julgamentos. Por isso, ao dar um feedback é importante libertar-se de suposições, estar aberta e ter uma escuta ativa.

"A escuta ativa é uma técnica que traz eficiência para o diálogo, baseada na compreensão e no cuidado ao ouvir o outro. Consiste não apenas em ouvir, mas compreender e interpretar com atenção as informações recebidas, sejam elas verbais ou não-verbais. Porque o que não foi dito, ou o silêncio, também têm muito a dizer". (Exame, 2019)

Por que feedback?

O feedback é uma das formas de motivar as pessoas, pois encoraja comportamentos que são valorizados pela empresa e equipe, além de estimular o autoconhecimento, fazendo com que as pessoas identifiquem suas limitações e entendam como lidar melhor com elas.

Quais os tipos de feedback?

O feedback pode ser positivo ou construtivo. O primeiro visa estimular um comportamento e encorajar a repetição de determinadas ações. Já o feedback construtivo tem como objetivo redirecionar um comportamento, algo não ocorreu como esperado.

Como se preparar para dar um feedback?

Para se preparar para dar um feedback, primeiro identifique o seu estado emocional. Como você está se sentindo no dia? Se estiver frustrada, irritada ou entender que o seu estado emocional pode afetar como você vai dar o feedback, repense e remarque. Valide com a pessoa se ela está aberta a receber o feedback e se esse é um momento propício. Não espere muito tempo, pois você e a outra pessoa precisam lembrar da situação para conseguir tornar o feedback mais tangível e específico.Agende a conversa com a pessoa em um local reservado e se organize. Se achar válido, anote os principais pontos que você deseja abordar.

Como dar um feedback estruturado?

Existem diversos modelos disponíveis no mercado que podem facilitar a estruturar a conversa, nesse artigo citarei 3 deles.

Keep and Consider (General Eletric — GE)

Modelo criado pela General Eletric (GE) chamado de Keep-Consider, traduzindo para o português Continue-Considere, que acabou com a revisão anual de salários na empresa, estimulando feedback em tempo real.

“Acredito que você deveria continuar compartilhando conhecimento com o time e colegas sempre que tiver oportunidades e deveria considerar adequar o material de acordo com a audiência e nível de conhecimento no tema que você está compartilhando"

ABC (McKinsey)

O modelo da McKinsey, ABC, Action-Behavior-Could do. Traduzindo para português esse modelo significa Ação-Comportamento-Poderia fazer.

“Na reunião pela manhã com os stakeholders você fez [Ação], isso fez com que eu me sentisse [Comportamento].
Nas próximas vezes, recomendo que você [Poderia fazer].”

SBI (Center for Creative Leadership)

O modelo SBI (Situation, Behavior, Impact) desenvolvido pela Center for Creative Leadership trabalha com 3 pilares: Situação, Comportamento e Impacto. O feedback utilizando essa estrutura foca primeiramente na descrição do ambiente e da ocasião. Após o contexto, é recomendado citar qual foi o comportamento da pessoa na situação. E, por fim o impacto que o comportamento citado teve na perspectiva da pessoa que está dando o feedback.

Situação — Na reunião de planejamento quando estávamos discutindo sobre o problema em uma funcionalidade;

Comportamento — Você me interrompeu diversas vezes e não deixou em concluir minhas ideias;

Impacto*- Isso me deixou desconfortável, pois eu tinha conhecimento e experiência para agregar na discussão;*

  • Adicione a expectativa: Nas próximas reuniões, você pode dar espaço para que eu me posicione? Acredito que podemos chegar em soluções mais criativas e eficazes ouvindo o que as pessoas do time tem a compartilhar.

Ao dar feedbacks recomenda-se trazer o contexto da sua perspectiva, evite falar em nome do grupo ou das pessoas envolvidas, traga a sua visão sobre o ocorrido. O feedback deve ser de você para a pessoa presente no momento.

Se você chegou até aqui espero que tenha gostado da leitura. E você, tem praticado feedback no dia a dia? Utiliza algum desses frameworks ou tem algum outro para sugerir? Conta mais!

Referências:

https://exame.com/carreira/sabe-o-que-e-escuta-ativa-a-tecnica-vai-melhorar-sua-vida-profissional/

https://qz.com/428813/ge-performance-review-strategy-shift/

(https://www.forbes.com/sites/davidklein1/2016/12/15/how-to-give-effective-feedback-at-a-startup/?sh=6f40b14d924d

https://www.ccl.org/articles/leading-effectively-articles/closing-the-gap-between-intent-and-impact/

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Isa Serpa
Isa Serpa

I work as a Global Group Product Manager in Rewards Program (Club Tada) in AB-Inbev the biggest beverage delivery app in Brazil. I am passionate about innovation, solving problems and team work. I write about Product Management, Leadership and Productivity.